sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Moça e o Nome

Sempre achei linda aquela moça. A mais de linda de todas as moças da minha rua. Não sabia seu nome, não sabia muito a seu respeito, só sabia admirá-la cada vez que eu a via passar por mim.
Eu perguntava a mim mesmo se havia me apaixonado por uma desconhecida, ou se havia sido enfeitiçado por aqueles profundos olhos castanhos. Essa era uma hipótese plausível, mas nunca me convenci de que algo tão sobrenatural pudesse ser a origem de tamanha admiração.
Às vezes, acreditava estar sofrendo por algum tipo de distúrbio psicótico, pois não era algo normal aquilo que eu sentia. Não era normal ficar olhando aquela moça e apenas isso, como se isso bastasse para satisfazer meu desejo.
Certo dia, pensei em fazer algo diferente de apenas olhá-la. Decidi que aquela linda moça merecia um nome que combinasse com sua beleza singular. Ao invés de pesquisar ou de perguntar a ela a sua graça, tive a ideia de dar eu mesmo um nome, mas não um nome qualquer, um que eu mesmo tivesse inventado, um que nunca tivesse sido pronunciado.
E assim o fiz.
Sei que a curiosidade tua deve ser grande em saber o nome que inventei, mas que graça teria eu dizer se não fosse algo que eu quisesse guardar apenas pra mim? Já te disse muito a respeito e me reservo no direito de ter alguns segredos.
Numa sexta-feira qualquer, num final de tarde, ouvi pela primeira vez o verdadeiro nome dela. Ela estava passando em frente a minha casa quando, de repente, um rapaz grita em sua direção:
- Maria!
Nesse momento, o mistério chega ao fim e um sentimento de decepção toma conta de mim. E isso não foi pelo fato de descobrir, enquanto ouvia os dois conversando, de que eles eram amantes de longa data. Aliás, já havia dito que não era paixão ou algo similar o que eu sentia. Na verdade, ainda não sei bem dizer o que era.
A minha angústia era saber que ela se chamava Maria. Parece loucura isso? Talvez seja mesmo.
Quando vi Maria passando no outro dia pela rua, não a achava tão linda como antes. Havia me convencido de que era outra pessoa e que aquela linda moça, a qual eu mesmo dei um nome, havia se mudado para outro lugar.

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